sexta-feira, 6 de junho de 2008

Feliz aniversário mãe!!!

Mãe, hoje 6 de Junho de 2008 completas 62 anos de vida por isso te desejo muitas felicidades.
Mãe, eu sei que os teus 62 anos não foram mares de rosas, foram sim cobertas de muitos espinhos mas que a senhora sempre venceu.
Mãe, me recordo, com tristeza, de vários momentos que juntos passamos, sobretudo na decada de 80. Eu sei que se a mãe o pudesse, iria apagar os longos e tristes anos que passou na decada de oitenta. Sei que foi na decáda de oitenta (1984) que perdeste o teu marido, meu pai, quando eu tinha apenas uns quatro anitos. Imagino a dor desses dias.
Mãe, eu imagino o fardo que tiveste de aguentar em tuas costas, quando meu pai se foi e te deixou com 7 filhos menores. Me lembro dos anos 85 a 87 quando fomos raptados e obrigados a passar anos nas matas por uns senhores que diziam estar a lutar por sei lá o quê!
Mãe, me recordo com muita tristeza o quanto choraste quando aqueles barbáros guerrilheiros do mato levaram o mano e o fizeram seu militar e nunca mais o trouxeram de volta. Imagino a dor de não saber se o teu filho/meu irmão raptado em 87 está vivo ou morto!
Lembro-me mãe, daquele dia em que depois de termos consiguido fugir das matas e nos reestabelecido em Cambine, os barbaros do mato vieram queimar toda aldeia, incluindo a nossa palhota. Me recordo ainda do dia em que, já na vila de Morrumbene, tu madrugaste para trazer água e nessa mesma altura os bandidos atacaram a vila e eu e a Anita (minha irmã mais nova) que dormiamos inocentemente, tivemos que fugir e tu ficaste uma semana sem puder nos achar.
Mãe, me recordo do que fizeste para nos levar a Escola. Me recordo que tinhas que ir ajudar a construir as salas de aulas do EP1, na companhia de homens só porque tu não tinhas marido.
Mãe, me recordo que tiveste de aprender a fazer negócio para puder pôr todos os teus filhos na Escola, e o consiguiste mãe! Lembro-me do dia que disseste que de entre os teus filhos não existia nenhuma analfabeto, assumindo "implicitamente" que o meu irmão levado pelos bandidos já não pertencia ao mundo dos vivos.
Mãe, me recordo da forma como manifestavas a alegria sempre que concluimos cada nível de ensino. Era bonito.
Mas, tu não só tiveste momentos tristes, mas também tiveste outros bons . O nascimento dos teus netos, por exemplos. E já somas 8 netos, não é mãe? Quando casavam os meus manos tu dançavas de tanta alegria.
Mãe, eu sei que não estás tão feliz comigo porque transgredi uma das tuas orientações de não viver com filha de dono sem casar. Mae, sei que para ti lobolo não conta, tenho é que me casar. Prometo fazer isso, pena que os recursos financeiros não aparecem como eu gostaria.
Para terminar, mãe, te peço uma coisa: pare de se matar tanto na machamba, já que nem precisas tanto disso. Nós damos-te sempre uma mesada suficiente para pagares pessoas que trabalharem na tua machamba e para comprares alimentação e vestuário.
Mãe, eu sei que tu te assustas com facilidade, por isso peço para que não te assustes amanhã quando veres a surpresa que as tuas noras e netinhos preparam para ti.
Parabens mãe!!!!

19 comentários:

Nelson disse...

Ai Jorge que texto emocionante. Trouxeste-me a memoria de momentos marcantes com a minha que já partiu. Bendita a mãe que te tem por filho.Feliz aniversario pra ela

Jorge Saiete disse...

Obrigado Nelson, diz-se que lembrar é viver. Aproveitei o aniversário dela para me recordar da dôr que sinto dentro de mim, por me ter sido negado o direito a uma infancia feliz. Tudo por culpa de homens que decidiram pegar em armas para maldosamente matar pelos seus umbigos

Ximbitane disse...

Nunca é tarde nao é? Parabens para essa grande mulher que é a tua, a minha mãe e mãe de todos nós.

Isso sim, é que é ser mãe! mas ó Jorge, não procures pretextos para não satifazeres a vontade da maezinha, casar nao é dificil, dificil é fazeres essa festança que estas a pensar. Vai por mim e ... Parabéns mamã Saiete!

Jorge Saiete disse...

Claro, claro amiga. Casar não é dificil, a sociedade é que dificulta. já imaginaste na tortura psicológica que posso receber caso decida me casar sem dar a tal festa? Mas estou a trabalhar no assunto e em breve mostrarei serviço!

AGRY disse...

Apesar de ter chegado tarde, gostaria de lhe manifestar a minha solidariedade e o meu apreço por uma atitude tão bela convertida num texto igualmente bonito
A sua infância integra, infelizmente a história de outras crianças em Moçambique e noutras regiões do Mundo.
Mas a vida não é propriamente um projecto para ser observado e realizado ao pormenor! Também não sei se isso teria alguma graça!
Parabéns pelo aniversário da Mãe
Abraço
Agry

Jorge Saiete disse...

Obrigado Agry.
Infelismente este mundo esta cheio de gente que tal como eu foi negado o direito a uma infancia feliz. Graças a Deus, mesmo sem ter tido infancia nenhuma, hoje me dou por feliz porque a minha mãe tudo fez para que eu me tornasse num homem igual a qualquer outro. E uma coisa estranha em mim, é que muita gente pensa que nasci em berço de ouro, tudo isso graças ao esforço da minha mãe.

Júlio Mutisse disse...

Jorge, concordo com a Ximbitane. Não procure pretextos para não casares.

Quando decidires fazer a tal festança logo te surgirá outro dilema: quem convidar e quem deixar de fora (sei que não coro o risco de ficar de fora) e, a mesma sociedade que te impinge a festa, vai te exigir que não falte ninguém como se as suas capacidades fossem ilimitadas.

Case meu irmão, dê a festa que PODES dar, alegre o seu coração e dê alegria a sua mãe e a toda a família.

Disse o padre Mabuiango que filho que casa "a boha tinguvo vapsali" (changan que traduzido literalmente "amarra a capulana aos pais"), isto é, acaba com a vergonha no seio familiar. Não seja a vergonha dos Saietes. CASE. Eu já não sou a vergonha dos Mutisses da minha linhagem... casei.

Jorge Saiete disse...

Mutisse, tu vieste tocar na ferida.
Sinto que estou a envergonhar os Saietes. Não so a minha familia, como tambem a familia da madame e pior ao meu Junior.
Mas logo logo, vou consertar esse erro e apesar de ter que deixar alguns de fora, quando chegar a vez, tu não estaras na lista dos minhados.

Nelson disse...

Mutisse e Ximbitane falando para a floresta toda(todo não casado). A única diferença: Eu ainda não vivo com ela.

Anónimo disse...

Oi Jorge
Parabens pelo Anivrsário da mamãe. E quanto ao casamento deve se realizar nào só para satisfazer o desejo da mãezinha, mas tb para cumprir com a palavra de Deus que diz "Mas, se não podem conter-se casem-se. porque é melhor casar-se do que abrasar-se". I Co7:9.

Jorge Saiete disse...

Obrigado Aderita,
Agora, tu nem me deixas nenhum campo de manobra? Indicas logo a passagem Biblica que me condena. Mas tudo bem, logo logo verei o que faço. Abraço

Jonathan McCharty disse...

Jorge, parabens a tua querida mae! A sua historia e' similar a de tantas outras maes, autenticas "guerreiras"!Nos os filhos e' q temos q saber honrar esse seu sacrificio e procurarmos sempre melhorar nao so as nossas vidas e dos nossos progenitores, mas tb a das geracoes vindouras!

Jorge Saiete disse...

Obrigado Jonathan,
Honremos aos nossos progenitores porque eles é que são os nossos "deuses".
Abraço

Anónimo disse...

Ricardo Cossa

Nunca é tarde,
Parabens Mãe,
Boa Surpreza, com certeza ela nem sabia que completava anos nessa data, nem quantos anos.

dr. esta mãe é nossa, recordo que quando viajas para a terra ou quando ela viesse nos visitar aqui em Maputo,na altura vivias na HU ou PT, sempre trazias rali e outras riquezas da terra e tu nunca esquecias de me dar.

também devia re recordar este esforco que a mama fazia quando era estudante universitário, ela sempre esteve ao teu lado.

Honre-a com o teu casamento sabe que nesse dia ela estara no centro, e é o que nossas mães querem

Parabens a todos saietes por se recordarem do aniversário dela, porque há tantas mães que cuidam dosfilhos com o mesmo sacrifício mas ganham apenas insultos,...

Casa doutor, pela igreja e Civil, e que o casamento dure enternidade e não seja showfismo.

Ximbitane disse...

Hehehehehe, Saiete, nem padrinhos te faltam: CASA!

Jorge Saiete disse...

Cossa,
por acaso comemos muita rali que mamãe trouxe de Inhambane, mas também ela é que fez o jovem que repartia contigo o almoço, sempre que não podias ir a casa comer algo(rsss). te recordas? (brincadeira meu amigo). mas na verdade estou com saudades do ISRI, sobretudo do refeitório.

Ximbitane,
padrinhos ainda não os tenho. estas dsposta a ser a minha conselheira? acredite que seria muito lindo.

Anónimo disse...

Jorge, deixe me secundar o Nelson: trouxeste me a memoria da minha mae la no Chibuto. Tua historia e historia de muitos de nos. Forca no teu blog. Hugs.

Anónimo disse...

Caro Jorge

Talvez por ter tido também uma mãe que ficou viúva aos 47 anos e que foi à luta para que os seus 5 filhos tivessem pão, teto e estudo, me identifiquei com a elegia que escreveste para a tua Mãe. Somos irmãos ao repartirmos um orgulho, mais do que merecido, pelas nossas mães lutadoras. Exemplos difíceis de seguir,como filhos, pois o exemplo delas fazem com que o nosso nível de comparação seja bem alto. O mínimo que nos sobra é retribuir modestamente, dentro dos valores por elas, a nós passados, anos a fio.

Parabéns para ti, teus irmãos e restante família, pela mãe e avó lutadora que têm, e devem sempre ter o maior orgulho.
E para a sua Mãe, os meus sinceros Parabéns, pelo respeito que merece.

um abraço
Antonio Maria Giuveia Lemos

PS. De casamentos não sou o melhor para falar, pois já tenho um atrás de mim, e daqui para a frente só viver junto, sem papeis assinados. No entanto, se é pela festa que não te casas, esquece ela. Pois o casamento não pede festa nem obrigações e pressões, e sim, o reconhecimento de um amor mútuo, celebrado a dois.

Jorge Saiete disse...

Nelson, Kodwane e António.
Muito obrigado pelos vossos comentários.

É verdade que a minha história é a mesma de tantos outros moçambicanos. o que me intriga é o facto de nem todos saberem honrarem as suas mães.

Abraço a todos e uma semana feliz