segunda-feira, 30 de junho de 2008

Decisões difíceis mas necessárias!

Na vida temos que tomar decisões bem difícies e em algum momento arriscadas. Creio que muitos mortais já tiveram que tomar esse tipo de decisões.
Eu decidi descer dos prédios e ir atrás das raizes. É que essa coisa de viver em prédios não faz parte das minhas raízes. Nós em Morrumbene vivemos em palhotas ou vivendas construídas em quintais bem espaçosas e em nossos quintais precisamos ter pelo menos uma árvore, coisas impossíveis em prédios.
Porque não me sentia bem, viver sem o que me identifica, facto associado a falta de capacidades para alimentar as exigências da cidade, decidi lutar com garras e dentes até comprar um terreno e fiz a famosa dependência (casa de jovens moçambicanos) no bairro da Machava Socimol-CMC "Nkobe". Aliás, lutei para conseguir o terreno e não comprar, porque em Moçambique a terra é propriedade do Estado e não se vende. Os moçambicanos só podem fazer o seu uso e aproveitamento e nunca te-la como sua propriedade. É ou não é?
No sábado passado levei alguns ex-colegas da escola para conhecerem a minha casa e a minha família. Eles que são amigos de verdade, vieram e confraternizamos. Vieram acompanhados dos seus namorados/as (sou o único da time que já adquiri o estatuto de "esposo") e não se esqueceram de pegar algumas beers, faltou mesmo a xenofobeer.
No meio da conversa e já com o álcool a fazer das suas, eis que um deles me surpreende com esta: mano tu és corajoso, tomaste uma decisão dificil, como consiguiste sair da cidade para a periferia pa?
Acredito que, esta questão foi precipitada pelo álcool mas não deixa de ser preocupante uma vez que há muita gente que assim pensa, mesmo sem cheirar nenhuma gota de álcool. Acha que o seu lugar é no centro da cidade nem que para isso tenha que hipotecar o seu bem estar e das suas familias.
Porquê é que queremos viver na cidade a todo custo? De tanto amar a cidade, muitos vivem mal em terraços e em caves sem o mínimo de condições. Quem é que não tem um conhecido a viver nessas condições?
Eu acho que para se viver na cidade não basta o querer apenas, há que ter condições para tal. Não faz sentido querer viver num prédio mas a usar lenha para cozinhar. Não pode querer viver num prédio sem capacidade de pagar energia eléctrica. Quantas pessoas vivem sem energia e acabam usando lamparinas como gentes da periferia?
Quantos sobem e descem dos prédios com latas de águas, porque não conseguem pagar a factura de água? Quantos atiram lixo pela janela do prédio, por falta de capacidades de aquisição de um recipiente de lixo, associada a porquice?
É dificil tomar a decisão de sair da cidade por causa de tudo de bom que nela existe mas se concluirmos que não consiguimos alimentar suas exigências acho que vale a pena tomar essa decisão dificil!!!

9 comentários:

Ximbitane disse...

Estas de parabens pela nobre decisao. Mas me conta, como foi que ficaste com a terra do Estado sem pagar? Juro-te que se consigo pela mesma via, mudo-me la para periferia.

Jorge Saiete disse...

Amiga, isso é simples. É só ir ao municipio e pedir um pedaço da terra para construir e o tecnico que lá te atender, te passará um montão de formularios para prencheres e reconheceres a assinatura junto do notário e te dirá para ir no mês seguinte ver a tua resposta. e quando lá voltares te dirá para ir 2 meses depois, e assim por diante, até não mais quizeres passar por lá. rsrsrsr

Olha confesso que é dificil e eu não sei mesmo para quê serve a dita lei da terra porque pedaço de terra mahala em Maputo e Matola não existe.

Ximbitane disse...

Ai, ai, ai! Juro que estava cheia de esperanças!

Anónimo disse...

Oh Saiete, concordo plenamente com sua observacao, mas queria somente acrescentar que para se tomar uma decisao dificil, passa necessariamente em aceitar que para existirem mudancas deve-se enfrentar desafios. Na pratica muitos jovens nao gostam de sobecargas de tarefas mesmo sabendo que e pra o seu bem. digo isso porque quanto "tais jovens" comecaram a pensar em erguer uma palhota "dependencia" poem na mente que so pode construir quem tem salario invejavel e nao so, a ginastica que se faz para obter todos os materiais ate ter a casa constitui uma pedra no sapato para muitos jovens que ainda nao experimentaram esta nobre actividade imprescendivel para quem se afirma intelectual.
Em suma, um sapo no fundo do poco tem sempre uma visao limitada.
Nao serao esses jovens sem coragem de tomar decisoes dificeis mas necessarias "sapos no fundo do poco?"

Horacio Zunguza

Reflectindo disse...

Antes, gostaria de saber se Horácio Zunguza é o tal que conheco de Nacala?

Claro que há muita complexidade em tomar decisão difícil. Para muitos, seja lá onde for, evitam trabalhar mais nos seus tempos livres, isto na construcão ou na manutencão da residência. Ter uma casa na periferia ou vivenda onde quer que seja, exige dedicacão em quase todo o momento: na construcão e manutencão. Com a sua cerveja, a pessoa vai ao pátio controlar as plantas e tirando aquilo que cresce em lugares errados, isso que passa a ser um divertido ou um dos hobbies. Durante as férias se contempla alguns dias à casa.

A aquisicão de terreno pode ser um outro problema, isto porque não é só ir ao Conselho Municipal, cumprindo a lei de terra. E se um indivíduo for um cumpridor da lei, poderá alguma vez adquirir algum terreno?

E, essa concepcão de periferia! quantos não ficam arrependidos anos depois quando a zona considerada periferia passa a ser uma das mais atraientes. E isso verifica-se em todas as cidades mocambicanas. As zonas de expansão são atraientes.

Jonathan McCharty disse...

Parabens Saiete!
Espero que inspires mais jovens a construir o seu cantinho, porque esse "negocio" de aluguer de flat por tempo indeterminado, e' dos piores investimentos (sem retorno) que alguem pode fazer!
Por acaso conheco bem essa zona de Nkobe e penso que tem ja' instalada electricidade e agua e as vias de acesso estao em condicoes, sem menosprezar a disponibilidade de servicos de transporte, incluindo ate os famosos TPM's.
Boa sorte e que daqui a mais algum tempo, inicies a construcao da "casa-mae".

Jorge Saiete disse...

meus caros amigos, obrigado pelos comentários.


Horácio,
concordo que muita gente anda a pensar que é precisso ter salário chorudo para ter casa propria. O que é é complicado entre nós é ter terreno, mas com este em nossa posse pode se construir, basta ter em mente a ideia do gradualismo. Na construção há procurar sempre dar passos curtos pois isso garante alguma segurança. Há muita gente que hoje vive em casas proprias mas que nunca teve salários gordos, tudo passa por dar passos realizaveis.

reflectindo,
olha, espero que o Horácio Zunguza cá volte para ver a tua questão.

é claro que muitas periferias em alguns anos ganham o estatuto de "centros". Quando consigui o terreno em Nkobe, lá nao havia energia electrica nem agua canalizada mas agora essas preocupações fazem parte do passado. Cada dia que passa o bairro está ganhando novo aspecto com um sem fim de construções.

Jonathan,
eu já tou mesmo a pensar na casa mãe, apenas ando assustado com o preço do material de construção, pois parece que a cada dia que passa o preço está a subir numa proporção geometrica.

Anónimo disse...

Nos comentários acima, senti que todos aplaudem a iniciativa do jovem Saiete de se mudar para a "periferia". Também o parabenizo pela atitude. Mas, acho que esta decisão foi tomada num contexto particular, em que já estava/está preparado para a situacão. Penso que viver num bairro como nkobe pode o "aproximar das reízes" e simultaneamente o afastar da vida, ou seja, complicar o seu dia-dia. A sua "sorte" é de o bairro já ter água, electricidade, estrada e transporte. Julgo que a falta destas condições condicionou anteriormente a sua ida ao bairro, daí que acima diz que "comprou" o terreno há algum tempo (quanto?). No meu caso, "arranjei" um terreno em Tchumene-II (mais ou menos a 5km de Mahlampsene), há uns 4 anos. já construí uma dependência e o murro, mas só poderei lá habitar quando houver principalmente transporte (Chapa) e electricidade, podendo até conviver com o problema da água e vias de acesso. De Tchumene para a cidade de Maputo (onde trabalho e estudo no período pós-laboral) são aproximadamente 25km. Daí que usando a minha viatura teria de percorrer 50km diários (multiplicados pelos 41.6Mt o litro de gasolina), sem contar que só iria à casa para dormir ( sempre muito tarde) e madrugar no dia seguinte. Enfim, quero muito libertar-me das hostilidades da cidade (o aluguer), mas não aguentaria com as consequências de tal atitude. Por conveniência, prefiro, por enquanto, continuar a arrendar, seguindo o exemplo do Saiete que esperou que o bairro tivesse electricidade, água e transporte (até TPM).
PS: enquanto isso, vou idealizando a planta da futura casa-mãe!
Abraços.

Jorge Saiete disse...

Ag,
obrigado pela visita e pelo comentário.

Na verdade um dos inconvenientes da vida na periferia está relacionada com a complicação da vida pois lá ficamos limitados e quem não tem transporte pessoal fica numa situação ainda mais complicada porque o chapa nem sempre está dsponível.

Mas em relação ao chapa na zona de Tchumene me parece que a situação só se minimizará com o aumento de residentes pois isso irá estimular os transportadores a ir até ao bairro.

Agora, o meu problema não é viver na cidade mas sim o querer lá permanencer sem capacidades de alimentar os seus caprichos.

Se Ag, é capaz de arcar com os caprichos urbanos eu até acho que vale a pena continuar porque nas condições actuais do país vale a pena estar no centro do que na periferia das cidades. Eu sei como é que isso funciona. Quando vivia na cidade, aproveitava as noites para dar aulas (turbismo) ou outras actividades que contribuiam para a receita mensal mas vivendo na periferia isso é dficil.

Abraço, volte sempre