A morte de um familiar ou amigo representa, para um Homem normal, uma perca extremamente dolorosa. Representa tudo menos felicidade. Quando morre alguem proximo, o que mais queremos é que os outros mortais se aproximem e nos consolem, que connosco partilhem a dor. Esperamos a solidadiedade de todos.
Infelismente, nos dias que correm as coisas não são bem assim. A infelicidade de uns representa a felicidade doutros. Há muitos que se aproveitam da nossa dor para festejarem e para alimentar os seus caprichos.
No fim do dia de ontem apanhei um chapa com um senhor conhecido que estava bem embriagado, quando lhe perguntei onde teria se embebedado, respondeu que tinha estado a beber em casa de um colega do seviço que perdera a esposa num acidente de viação, no último domingo.
A resposta dele me levou a pensar sobre o sentido da morte para muitos de nós. É que, eu não consigo entender como é que numa cerimónia funebre há espaço para demasiado consumo de alcool. Mais ainda, não consigo saber, quem compra tal bebida? A familia enlutada? Os amigos que vão consolar? Quem é que tem tempo para fazer tão ruim aquisição num momento daqueles?
Para Cristãos, a morte foi vencida com a ressureição de Jesus pelo que cerimónias funebres são momentos da exaltação da vida e não da morte, mas a exaltação da vida é feita com corações humanos. O cristão, mesmo acreditando que o morto vai a uma nova vida junto do Pai Celestial, exalta esse facto consciente de que os mais proximos do finado têem os seus corações quebratados.
As bebedeiras nos funerais só se comparam em termos de níveis de barbarie aos os pseudo pastores/reverendos que diariamente se posicionam no Portão Principal do Cemitérios de Lhanguene, para em troca de dinheiro, orientar a sepultura de finados que em vida não quizeram se aproximar de nenhuma congregação religiosa.
Acho que, a morte não devia constituir festa nenhuma e nem deviamos deixar que fosse fonte de rendimento de gente sem escrupulo. É imperioso que respeitemos a morte se queremos ser uma sociedade digna de consideração!!!
Adenda: Já pensaram na moda que está a surgir de filmar os funerais? Alguem sabe, para que fim são aqueles videos? Em que momento são assistidos? Os familiares reunem-se para assistir o funeral, passados alguns dias/semanas/meses? Qual é a sensação de assistir filmes daquela natureza? Estamos mal, não acham?
15 comentários:
Muito sério o que narras, Saiete! Realmente por estas bandas, os funerais viraram momentos de lazer, sobretudo as missas.
A preocupação já nem é com a compra do caixão ou com a cerimonia em si, é com os comeretes. Os comentarios, post-mortem, giram em torno do que se griffou, comeu e bebeu.
Mas também, em parte, somos nós proprios culpados da vulgarização da morte e do momento funebre que se vive quando a morte bate-nos a porta.
Buffets com direito a cadeiras vestidas, ornamentação e barmens à servirem? Francamente, parece que o conceito de perca/morte, mudou entre nós. O que me enerva é que nem é porque acreditamos nas beneses superiores mas sim nas beneses terrenas!
Isto aqui é sério e não é só em bebidas mas mesmo em comida nos deve preocupar. A questão de bebidas é mais dolorosa porque o bêbado nem tem maneiras de fingir-se triste naquele momento de choros.
Em tudo são gastos demais que contribuem na agravacão da pobreza.
Quanto aos pastores/reverendos que se posicão no Portão do Cemitério para cobrar para orientarem cerimónias fúnebres, acho que podia ter uma solucão criando-se uma possibilidade de isso ser sob responsabilidade do Conselho Municipal. É uma rápida reflexão e que pode ser problemática, mas da mesma maneira que há coveiros, podia haver alguém que orientasse funerais não religiosos mas condignos e mais humanitários, nem que isso exigisse um pequenino acréscimo dos impostos.
Concordo com a Ximbitane de que culpados somos nós, os vivos. Muitas vezes queremos mostrar o nosso capital nas cerimónias fúnebres do nosso familiar.
Plemanente de acordo Ximbitane,
Nós, com o espirito de show-offismo, nos preocupamos tanto com comidas e bebidas para impressionar os nossos consoladores e muita das vezes em prejuizo de uma sepultura condigna ao finado.
Reflectindo,
Vistas as coisas do lado da economia familiar estas festas funebres em nada contribuem no combate a pobreza. Muita das vezes em caso de morte de um pai ou mae, quem fica a sofrer com a fome, são filhos porque a familia trata de esbanjar tudo em festanças absurdas.
O conselho municipal, enventualmente podia ser vital na solução deste problema bem bicudo. Mas para mim a contratação dos pseudo pastores/reverendos, não faz sentido, se considerarmos que o finado durante a vida não quiz saber de nenhuma religião não havendo necessidade de força-lo quando morto.
recordo-me de algumas histórias que ouvia da minha avó. nos tempos dela aparentemente os consoladores é que traziam alimentos para a casa dos familiares do morto. hoje está tudo ao contrário. a noção de solidariade sofreu uma desvalorização. reparem em quanto dinheiro é esbanjado quando o mesmo devia ser deixado para os herdeiros. os enlutados não deviam preocupar-se em dar de comer aos consoladores; penso eu ser uma tarefa social consolar quem precisa de consolo e não uma troca em que "tens que me dar chá para vir-te ajudar a enterrar o teu ente querido"
Isso Bayano,
Agora os consoladores carregam apenas as suas barrigas e vão aumentar dspesas ao pobre parente do finado.
Curioso é que nem ajudam a enterrar porque esse trabalho é feito pelos coveiros e agencias funerárias!!!
Concordo com o Bayano, alias é o que ainda se faz lá pelas bandas da minha avó, em Chidenguele, e a minha familia, mesmo por cá persiste em viver assim.
Mas já vivenciei situaçoes terriveis: logo que se sabe que há morte em determinada casa, os consoladores vêm como se de uma colmeia se tratasse e isso significa custos. Não é por acaso que agora pouca gente faz missa de 7º dia pois isso representa encargos ao longo de toda uma semana e na propria missa.
Os consoladores nem fazem nada! Já me vi em situação de ter que ser eu a ir tratar das demarches funebres (papelada, caixão, cerimonia em si) enquanto as pessoas se mantinham a espera da hora do funeral.
Só tive tempo para chorar o meu ente querido a escassos da sepultura que hoje o guarda por toda a eternidade.
Lá na minha terra no interior de Morrumbene também ainda há seriedade, é verdade que em todo lado anda um perverso para dar sentido a vida.
Mas o que acontece aqui na nossa capital é deveras assustador. Olha
Ximbitane, eu quando miudo (12 a 16anos) na companhia de amigos caçamos locais onde havia festas de casamento e sem sermos convidados entravamos e tomavamos "maheu" mas os "Jhecadores" de hoje (que até são adultos) andam atrás de funerais. Estamos mal!
"os consoladores" rsrsrsrsrs.... ate parece uns "profissionais".
De consolo que se precisa, pelo menos o necessário, pouco ou nada dão. Aspecto interessante esse. Onde vamos com esse "desenvolvimento" social?
Boa pergunta Nelson, faço dela minha também.
Consolar não chega a ser profissão mas muitos por detras dela se escondem para parasitar.
... E no fim do periodo de nojo, levam leite condensado, manteiga, "jam", que sobrou da semana! Vê se pode!?
Aos 12 anos, lá na minha povoação no interior de Manjacaze, nem éramos permitidos passar perto de um local onde decoresse uma cerimónia fúnebre. Estava claro que aquele era um assunto de adultos. Éramos, inclusive, evacuados de casa se o infurtúnio fosse nas nossas próprias casas.
Hoje até bebés de colo são levados às capelas, morgues ou mesmo ao cimitério, expostos à todos os riscos e situações...
Hoje filmamos e fotografamos os funerais via máquinas convencionais ou pelos celulares que, vezes sem conta usamos para marcar o "chilling" de mais logo enquanto os enlutados choram o defunto.
Em que momentos assistimos os "filmes" dos funerais? Se calhar no momento de ver quem veio ao nosso show de ostentação. Para vermos como estava vestido o fulano, ou whatever. Não acredito que seja para recordar o momento triste em que nos despedimos dos nossos entequeridos.
Em boa hora a direcção da morgue e das capelas do HCM proibiu filmagens e fotos naquele recinto. Espero que a nossa consciência proíba outras coisas.
Júlio,
Fartei-me de rir com o escreveste.
A evacuação dos menores dos locais onde há falecimento é tradição de muitos de nós. E essa tradição ainda é mantida em zonas situadas fora dasa cidades. é que para nós a morte merece todo o respeito e quem participa das suas cerimónias devem estar bem claro do que lá vai fazer.
Nelson,
Ainda duvida que se trate de consoladores profissionais? O que levaria um indivíduo a fazer-se (de fato e gravata) à porta do cemitério se não o exercício de uma actividade (como profissão) que lhe rende alghum?
Reflectindo,
Há uma capela no interior do cemitério de lhanguene que pode, mediante certas condições, ser usada para "encaminhar" os nossos entes ao pai eterno. O Conselho Municipal não consegue nem lidar com as obrigações básicas que lhe são incumbidas, quanto mais "gerir" pastores. Não concordo com a ideia por, também, não ser essa a vocação do CMM. Cada um de nós tem o seu credo, a sua congregação, é responsabilidade nossa fazermo-nos acompanhar dos líderes desses credos/congregações e não do CMM.
Júlio,
A morte banalizou-se. As crianças não só participam nas cerimónias fúnebres, como também participam em eventos que causam a morte.
Veja-se o caso dos linchamentos.
Mais, é difícil "transladar" a nossa vivência rural para a cidade. Dizes bem que lá em Manjacaze nem éramos permitidos passar perto de um local com cerimónias fúnebres... deves estar a lembrar do episódio do enforcamento da vizinha lá em Mazucane em que durante 2 semanas fomos impedidos de usar o caminho mais curto à escola e, mais tarde, se quer de brincar na maldita árvore.
A morte para as nossas gentes rurais e para muitos de nós que bebemos grande parte da nossa educação lá, é sagrada. Não é por acaso que, meu caro Júlio, apesar de sermos trintões continuamos a TEMER a morte, os funerais e a visualização dos mortos (eu ainda fiz as práticas de medicina legal ao contrário de ti).
OS FILMES,
Guardam para a posteridade as imagens do caixão bonito, da roupa cara que vestimos, a imagem do ministro que nos honrou com a sua presença, os desmaios simulados daquela tia que desconfiamos ter "acelerado" a morte do finado etc.
Quando os vemos? Como diz o Júlio, no momento de alimentar o nosso ego perante TANTA ostentação.
GM
Hiii, o Matsinhe pisou fundo... e falou verdade!
Concordo com a observacão de Matsinhe. A minha sugestão é problemática ou seria mesmo que aceitar os consoladores profissionais como Nelson os denominou. E, de certeza multiplicar-se-iam se eles encontrassem um patrão como o CMM.
A questão de enterro religioso, deviamos continuar a reflectir sobre. Acho que uma questão/preocupacão dos vivos, sobretudo familiares e chefes religiosos que dos mortos. O que tenho notado é que quem mais forte na família puxa o falecido para a sua religião enquanto que os líderes religiosos usam do falecido pra recrutar mais membros.
concordo que não há necessidades de forcar um morto para uma religião que não conheceu em vida. Do que sei é que há tempos, lá na minha zona haviam enterros nao ligados a religião ou que se faziam segundo a tradicão da zona.
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