terça-feira, 27 de maio de 2008

Estou a pedir mil....

Estou a pedir mil para comprar pão! Estou a pedir mil para aumentar no que tenho e apanhar chapa! Estou a pedir mil porque fiquei sem dinheiro, acabo de ter alta no HCM onde estava internado! Estou a pedir mil para....bla bla bla bla!!!!!!
Não interessa para que fim, o que interessa é o meu pedido: Estou a pedir mil.
Duvido que passará por aqui alguém (entre os residentes de Maputo) que nunca foi confrontado com um pedido desta natureza. Pessoalmente, tenho tido a má sorte de receber, quase diariamente, peditórios destes e nos últimos dias, eventualmente, como resultado do aumento do custo de vida, tenho cruzado com gente mais ousada que pede até 5 paus. Peço 5 paus mano! Mwananga ndzi kombela 5 conto ya ku xava pawa!
Infelismente as várias crises que o país atravessou contribuiram para o aumento da pobreza urbana. Muita gente que entre nós vive, não tem o mínimo para subsistir, sobretudo as pessoas da terceira idade e os portadores de deficiência.
Em Maputo encontramos em todas esquinas gente que apenas depende de pessoas de boa vontade para consiguir o seu pão de cada dia. A situação deste compatriotas é piorada ainda, pela falta de políticas socias apropriadas para lidar com este tipo de situações.
Mas se há gente que pede por ser incapaz de produzir devido a sua idade ou estado físico, é também verdade que há outra que "pede por pedir". Este último grupo é composto por gente saúdavel e com idades que permitem a labuta mas que se dedicam a mendigagem por razões que bem gostaria de as conhecer.
Ronil, Belita, saída do Hospital Central são locais onde muitos desses pedintes (preguiçosos) se concentram. Na Ronil encontro sempre uma senhora dos seu 40 e tal anos a pedir a todos que por ai passam. No primeiro dia, que a encontrei, respondi positivamente ao seu pedido mas fiquei espantado e indignado quando a encontrei na mesma esquina nos dias subsequentes.
Na saída do Hospital Central também anda um senhor que finge estar a sair do Hospital e que precisa de "alguma ajudinha" para apanhar o TPM. É um autentico burlador, o homem se aproveita do nosso espirito solidário para encher a sua carteira.
Custa-me aceitar que uma pessoa normal se tranforme em mendigo só para ganhar dinheiro fácil. Alguem sabe dizer qual deve ser a nossa atitude perante estes pseudo mendigos?

17 comentários:

Anónimo disse...

alô Jorge parebéns pelo Blog.

quanto ao tema que apresentas (Mendicidade) já havia debatido com outras pessoas e achei interessante alguns dos aspectos que levantamos nessa altura.

Duas histórias que ouvi deixaram-me particularmente pasmado. a primeira história retratava a experiência de uma jovem que vivia como mendiga e depositava o dinheiro que "angariava" no banco. após algum tempo (não sei quanto) abriu uma barraca. o emprrendimento cresceu e acabou se dando bem. Não sei se a história é verídica, mas pela descrição de quem contava, que por sinal conhecia a moça, pareceu-me ser verídica.
outra história que ouvi directamente da filha da visada, falava de uma senhora de idade que com todas as condições (entenda-se casa, comida, electricidade, roupa e até empregados) às sextas-feiras entrava nas enormes filas que fazem procissão às lojas pedindo algo.

com estas duas histórias quero retratar duas coias: primeiro, que a actividade de mendigo provavelmente é mais rentável que outras convencionais. imaginemos por exemplo quanto faz um mendigo por dia e multipliquemos isso pelos 30 dias (e não 20-23 que fazemos convencionalmente) do mês. provavelmente ficaremos perplexos com os números. caso queiramos dar um cunho mais científico alguém (com tempo e paciência suficientes) poderiam fazer um estudo no qual se fará uma observação durante algum período a um dos mendigos "fixos" das nossas avenidas.

o segundo aspecto que pretendo retratar com a segunda história prende-se com os outros elementos que não monetários e/ou materiais a mendicidade poderá proporcionar. falo de permitir que alguém, já na fase idosa possa conviver com outras pessoas. questionemo-nos: no meio urbano qual é o espaço que uma pessoa idosa tem? se os filhos, os netos e bisnetos estão ocupados com a escola trablho etc. que ocupação tem a vovó que fica em casa? num contexto urbano onde poderá ela estar com outras pessoas e gozar dos benefícios do contacto social? a minha resposta é NA RUA.

fechando a minha análise quero dizer que a mendicidade dependendo da situação psicossocial de cada um, não tem a mesma cara humilhante e desprezível que nós poderemos ter.

abraços

Anónimo disse...

alô Jorge parebéns pelo Blog.

quanto ao tema que apresentas (Mendicidade) já havia debatido com outras pessoas e achei interessante alguns dos aspectos que levantamos nessa altura.

Duas histórias que ouvi deixaram-me particularmente pasmado. a primeira história retratava a experiência de uma jovem que vivia como mendiga e depositava o dinheiro que "angariava" no banco. após algum tempo (não sei quanto) abriu uma barraca. o emprrendimento cresceu e acabou se dando bem. Não sei se a história é verídica, mas pela descrição de quem contava, que por sinal conhecia a moça, pareceu-me ser verídica.
outra história que ouvi directamente da filha da visada, falava de uma senhora de idade que com todas as condições (entenda-se casa, comida, electricidade, roupa e até empregados) às sextas-feiras entrava nas enormes filas que fazem procissão às lojas pedindo algo.

com estas duas histórias quero retratar duas coias: primeiro, que a actividade de mendigo provavelmente é mais rentável que outras convencionais. imaginemos por exemplo quanto faz um mendigo por dia e multipliquemos isso pelos 30 dias (e não 20-23 que fazemos convencionalmente) do mês. provavelmente ficaremos perplexos com os números. caso queiramos dar um cunho mais científico alguém (com tempo e paciência suficientes) poderiam fazer um estudo no qual se fará uma observação durante algum período a um dos mendigos "fixos" das nossas avenidas.

o segundo aspecto que pretendo retratar com a segunda história prende-se com os outros elementos que não monetários e/ou materiais a mendicidade poderá proporcionar. falo de permitir que alguém, já na fase idosa possa conviver com outras pessoas. questionemo-nos: no meio urbano qual é o espaço que uma pessoa idosa tem? se os filhos, os netos e bisnetos estão ocupados com a escola trablho etc. que ocupação tem a vovó que fica em casa? num contexto urbano onde poderá ela estar com outras pessoas e gozar dos benefícios do contacto social? a minha resposta é NA RUA.

fechando a minha análise quero dizer que a mendicidade dependendo da situação psicossocial de cada um, não tem a mesma cara humilhante e desprezível que nós poderemos ter.

abraços

Jorge Saiete disse...

Mondlane, tu trazes duas estórias interessantes e que com certeza serão úteis para a commpreensão do fenómeno.

na primeira estória, acho que estamos perante um oportunismo chocante. independentemete das razões que se pode evocar não me parece razoavel que alguem use a piadade dos outros mortais para alcaçar os seus itentos. Note que, quando ela ia pedindo nunca revelava os seus planos, dizia estar com fome ou outra dsculpa esfarapada.

Na segunda estória vejo fragilidade do nosso sentido social e ainda da familia (no sentido micro). A dinamica actual não nos deixa com muitas manobras mas creio que ainda podemos criar algo que entretenha os nossos idosos e não permitir que diambulem na cidade. temos muita coisa que podemos fazer. se tivermos machambas ou quintas fora da cidade, podemos meter a (o) nossa(o) idosa(o) no chapa nas manhãs e ir passar algum tempo a ver a horta ou a nossa criação. outra saida é envolvermos a ela em actividades religiosas (a minha mãe está sempre ocupada em conferencias, reuniões, orações, vigilias, etc da sua igreja) e tanta outra coisa que podemos fazer pelos nossos progenitores, que não seja faze-los de mendigos.

abraço, volte sempre

Ximbitane disse...

Pois Saiete, concordo plenamente com o que diz Haid Mondlane.

Alguns até me chamam de insensivel, mas a esses e outros não dou nem um centavo do que me esta no bolso. Prefiro comprar uma caixa de leite e ofertar no Infatário.

Prefiro até ser caridosa para com os filhos da minha empregada, empregadas vizinhas e guardas nocturnos, sei que esses valorizarão o meu gesto.

Jorge Saiete disse...

Ximbitane, acho que não estás a insensivel, pelo contrario estás a contribuir para o combate ao pseudo mendiguismo e ao oportunismo dsfarçado. é só ver a primeira estória que Mondlane contou no seu comentário. triste e chocante!

Agora, eu acho que os comerciantes promovem o pseudo mendiguismo ao distribuirem paezinhos nas sextas. Circule na zona comercial de Maputo a partir das 9 da proxima sexta-feira e veja se dsmaias de tanta barbaridade que acharás nas lojas.

Jonathan McCharty disse...

Lembro-me de um "velhinho", sempre de cofio', sentado ali nas escadas do edificio da electricidade de Mocambique (Avs. Eduardo Mondlane e Amilcar Cabral) em Maputo. A sua pose normal e' sentado, com as pernas esticadas e as suas "pseudo"-proteses e muletas completamente a mostra! Dei muitas moedas ao "gangster" ate descobrir um dia, que o tipo tem pernas "normais", anda sem qualquer auxilio de muletas e as presumiveis proteses, sao umas chapas plasticas bem moldadinhas....Apartir desse "choque" tremendo que apanhei, me desculpem, mas nao dou esmola a ninguem, salvo situacoes comprovadamente excepcionais! Outros "sanguessugas" sao os tais de "vou ficar a guardar o carro, patrao"! A esses eu mando passear na hora...

Jorge Saiete disse...

Jonathan, eu até perdoo os "guarda carros" porque fazem algum esforço, embora mínimo. mas aos pseudo mendigos, como o que acabas de dscrever nunca vou perdoar.

Mas o meu problema é, quem deve acabar com eles?

Bayano Valy disse...

caro jorge,
esta postagem obriga-nos a reflectir sobre as políticas de protecção social que temos. aliás, esta questão torna-se aínda mais pertinente com a chegada em grande dos nossos compatriotas. será que a nossa política de protecção social é eficaz? porquê é que temos poucas pessoas dentro do esquema de segurança social? qual é que deve ser a nossa contribuição como cidadãos? se o sistema é deficiente, o que podemos fazer para melhorá-lo?

Jonathan McCharty disse...

Jorge!
Os "guarda-carros" sao a classe que exactamente deve ser repudiada! Sao jovens que na ausencia de emprego, devia estar la na Moamba ou outro sitio qualquer a cultivar a terra ou criancas q deviam estar na escola! Eu as vezes pergunto aos miudos, se pra ver se eles "pensam": O q faras se um ladrao vier aqui assaltar o carro?? A maior parte deles diz que "vai lutar com ele"!
Mas uma coisa e' certa: cada moeda amealhada e' um grande "boost" pra continuar na rua!

Jorge Saiete disse...

Bayano,
Não restam dúvidas, com a chegada dos nossos compatriotas da RSA a situação vai mesmo deteriorar-se. As políticas sociais do nosso país são péssimas e nós como cidadãos temos é contribuir para que elas sejam melhoradas. debatendo esses assuntos aqui na blogsfera estamos de alguma forma a contribuir, não achas?
Olha, eu dscubri que há muitos policemakers que visitam nossos blogs

Jorge Saiete disse...

Jonathan,
tens muita razão mas não te esqueça que apesar de tudo que se diz por ai, o ensino não é para todos em moçambique. muitos desses miúdos, ficaram sem vagas para prosseguir com os seus estudos.
Agora, cultivar a terra seria boa opção e acho que os manos da revolução verde, deviam aproveita-los. ensinandos-os algumas técnicas agricólas, concedendo-os algum credito e estimulando sobretudo o regresso ao campo.

Bayano Valy disse...

caro jorge,
disso tenho a certeza. diz-se que a bloguesfera é de alguma forma o último bastião da liberdade de expressão, e é aquí onde pelo menos pode-se ouvir e ler aquilo que cada um pensa.

Jorge Saiete disse...

Concerteza Bayano,
Só espero que não sejam desenhados mecanismos de limitar a nossa liberdade aqui também!

Ximbitane disse...

Pseudo-mendiguismo dos comerciantes? Pode até ser! Mas eles querem cumprir um dos pilares da sua religiao sendo caridosos, devemos impedi-los?

É claro que não! O que diz a politica da Acção Social quanto a isso?

Comentei o assunto com alguem la de dentro que me disse que já houve uma parceria com os comerciantes e o ministerio de tutela para evitar-se essa situação.

O problema é que depois de receberem os produtos alimentares, os mendigos voltavam as lojas alegando que nada haviam recebido. Qual é que foi o sentimento dos comerciantes?

Por mim, as ajudas deviam ser canalizadas para instituiçoes claramente identificadas e que se batem com muitas dificuldades em alimentar crianças, jovens e idosos.

Por falar nisso, que tal uma corrente de solidariedade dos bloguistas por ocasião do 1 de Junho? Nunca é tarde e os anjinhos agradecem!

PS: Desculpe-me Saiete por usar o seu espaço em campanhas!

Jorge Saiete disse...

Ximbitane,
Concordo com essa ideia. Podiamos sim, como bloguistas fazer algo pelos petizes no seu dia.

temos é que aprofundar esse assunto com outros amigos da blogsfera.

Para ti e para os outros bloguistas, aqui esta o meu email que pode ser, também, usando para conversa instatanea vulgo messenger (msn): matic_j@hotmail.com
adicionem-me e ai tendes o meu numero de cell . 829110280

Júlio Mutisse disse...

Entre os mendigos que polulam pela cidade há uns a quem, particularmente, dou: os incapacitados fisicamente, que notoriamente (salvo a fantochada contada pelo Jonathan do mendigo das proximidades da EDM) não tem capacidade para prover o seu sustento (faltam-lhes as duas pernas, tem uma deformidade física congénita etc).

Há outros a quem, como a Ximbitane, não dou nada. Nadinha mesmo. As crianças digo alto e a bom som que deviam estar na escola.

Não suporto ver meninas de 25, 30, 45 anos a mendigarem, quando a minha mãe, aos 67 mesmo não podendo cultivar por razões de saúde, levanta cedo para olhar pelo que é dela nos campos cultivados a espera da GRAÇA da chuva lá em Manjacaze.

Quem dá alimenta a preguiça, a ociosidade e muitos vícios. Na esquina entre a Amilcar Cabral e a Mao Tse Dung tem uma senhora que, normalmente, ao final do dia está a cambalear de bebedeira às cusatas do dinheiro que muitos incautos vão ali deixando.

NA esquina da Ronil tem um menino/moço com uma corcundinha que estremece todo ao andar durante as horas normais do peditório e que, findas essas horas caminha como qualquer mortal. Não se sintam mal se não derem.

Prefiro os lavadores de carro (os honestos) que fazem algo. Dão um pouco do seu trabalho em troca do dinheiro que com ele despendemos (mesmo sabendo que um carro disparado pode accionar aquela poça na esquina seguinte e sujar o carro de novo).

Ximbitane disse...

Que bom que a ousadia foi por ti bem recebida , Saiete.

Já estamos por cima da hora e creio que pouco poderemos fazer pelo dia D.

Já que a ideia é benvinda, deviamos é a tranferir para uma outra data ou acontecimento.