segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Coisas da terra

Já voltei da aldeia tive uma optima viagem. Deu para relaxar, comer muita fruta fresca e rever amigos de infâcia. E por falar de amigos, aqueles que com eles ia pescar no rio, caçavamos ratazanas (a ma bonhani) e juntos iamos a escola aprender a falar Português. Isso mesmo, nós queriamos tanto falar Português, e eu comecei a pronunciar palavras em Xiputukezi aos 8 anos. Muitos desses meus ex-colegas, com idades a rondarem os 27 a 31 anos, ainda continuam lá na terra, são casados e têem entre duas a quatro esposas cada e cerca de 6 ou mais filhos. Ficaram espantados quando os disse que tinha apenas uma única esposa e um único filho. O seu espanto se justifica, é que ser homem na minha terra é ter mais do que uma mulher e muitos filhos. Quem tem apenas uma esposa é visto pelos outros como um fracote.
Vi também, tantos velhos da minha terra e com eles bati muito papo e ouvi tantas estórias. Apenas vos conto uma delas. Na aldeia há um ancião que é responsável pela pulverização dos cajueiros contra oidio e como o cabrito come onde está amarrado, ele decidiu usar o produto químico para pulverizar a sua machamba de milho, como forma de combater as formigas que acabam com a sua produção. Para a desgraça do pobrezinho e graça dos aldeiões, o milho não aguentou e secou, o homenzito vai gemer de fome. Já viram até onde a ignorância nos leva? Porque sei que o nosso país é pequeno, uma oportunidade de ir Cambine pode vos aparecer e por isso deixo-vos um conselho a ter em conta quando para lá viajarem: Não se chateiem quando da vila de Morrumbene a Cambine o chapa de repente parar numa sombra e um passageiro sair correndo. Não se zanguem, tenham paciência. A pessoa não estará fugindo. Ela apenas, estará indo buscar dinheiro para pagar a passagem. Não levará muito tempo, cerca de 5 a 7 minutos. Com um pouco de azar, isso pode ocorrer mais de uma vez durante a viagem. O remédio é simples, paciência, paciência e paciência.
É que não se vai todos dias a vila e no dia que para lá se vai, há que comprar tudo que for necessário e é normal que todo dinheiro acabe nas lojas. Mas se o dinheiro acaba ninguem se preocupa, nem é preciso informar ao cobrador antes de entrar no chapa porque ele vai mesmo esperar na paragem, enquanto o passageiro vai atrás do dinheiro. Imagem tirada daqui

3 comentários:

Júlio Mutisse disse...

Hahahahah. Wena Saiete. Com que então V. Excia também aprendeu a falar português com 8 anos(em relação a mim atrasaste 2 anos)? Com que então o fenómeno da carteira em casa passageiro no chapa, também ocorre lá do seu lado? Há mais algum exemplo de que este país é uno? Hahahaha.

No meu caso o espanto não é só o facto de ter uma esposa e 2 filhas; é, para os da minha geração, ter ido para além do horizonte 7ª classe que a Missão Manguze leccionava até há poucos anos. Muitos deles dali bazaram para o Jhoni, compraram carros e construiram as suas casas lá na aldeia onde continuam a viver agora que o Jhoni acabou. Alguns são os chapeiros da nossa zona e outros...

Jorge Saiete disse...

hi zona Mutisse, fui tarde a escola. wena pelo menos u pfukelile.

Mano, Majhoni jhoni é o que tem de mais na aldeia. na minha zona para além de comprar carros e virarem chapeiros, eles são ops ma-paga-bem da aldeia. teem um sem número de esposa e uma infindável bicha de casas 2.

Reflectindo disse...

Aldeia dá saudades e muita saudade se tem em encontrar-se com amigos e colegas da infância, mesmo com aqueles que eram mais velhos e ameacavam-nos. Esses mais velhos que até nos obrigavam a ser mensageiros para as suas namoradas e até nos batiam quando não cumprissemos a missão.

Infelizmente tenho poucas possibilidades de fazer o que fizeste. Quando para lá vou o que faço raramente, é só resolver problemas ou ser apresentado problemas. O bom é que eles só me apresentam problemas sociais e não económicos: divórcios, poligamias, etc, etc. É que lá na minha zona as mulheres raramente aceitam poligamia enquanto que os homens insistem. Então, é guerra constante que ao chegar em casa dum familiar que se tenha tornado polígamo, a primeira novidade é essa. É irmã, prima, sobrinha ou tia, é cunhada ou prima, todas elas te acham quem vai sancionar nos seus homens. E como te controlam para verem se não chegaste na outra!´

Da cidade levo algo para eles como açúcar, óleo da cozinha, petroleo, cadernos, lápis e outro material escolar para os familiares, e, pelo menos uma bola para a minha primeira escola, sim lá onde aprendi "ekunya", isto é a língua do branco. E eu regresso de lá com galinhas, cabritos, farinha, amendoim, feijões. A única coisa em que o pessoal da minha aldeia, incluindo o meu próprio pai, se tornou avarento, é em castanha de caju, pelo menos para mim, já que vou para lá fora do período da sua colheita.