quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Espiritos impiedosos de Mavoco

Há um ditado popular que diz: "filho do peixe sabe nadar". Eu diria, filho de camponês sabe trabalhar a terra. Aliás, esse é um dos maiores legados que recebi da minha mãe.
Quem cresceu a trabalhar a terra para ter o seu sustento, para ter a sua nyangana, cacana e maçaroca, custa-lhe ter que comprar esses produtos.
A cada vez que vejo alguem a investir uns meticais na compra da cacana da dona Mimi, que cresce na parede da sua casa de banho, perco o ar de tanta dor no peito. E para que nunca mais, a minha família voltasse a consumir cacana produzida na parade do WC da dona Mimi, decidi nos finais do ano passado, voltar a fazer o que sempre fiz, trabalhar a terra.
Adquiri uma mata em Mavoco, mandei desbravar, investi no homem da charrua que prontamente lançou-se ao trabalho, afinal receberia uns preciosos 3500 meticais no fim da jornada. Com a terra quase pronta a receber a semente, o bolso do homem da charrua quase a receber o cash, eis que o régulo decide mandar paralisar os trabalhos, como que a dizer l`etat c`est moi.
Para o régulo, há que parar com os trabalhos, em todas as machambas que estão na zona de Mavoco, porque os espiritos andam lixados connosco e por isso não largam uma única gota de chuva cair por mais de três meses.
Há que parar com o trabalho à terra, porque quando cultivamos uma terra quente mais furiosos deixamos os antepassados e estes se vingam lançando sobre Mavoco toda a sua raiva e quando isso acontecer, não teremos chuva por todo o ano.
Para o meu respeitavel régulo, a chuva tem um regulador invisivel que a solta ou a prende quando bem entende. A chuva não é da natureza, não. A chuva pertence aos espiritos e nós ou os obecemos e temos a chuva ou os desrespeitamos e eles se vingam.
Cá para mim, os espiritos de Mavoco são injustos na sua vingança pois eu nada fiz para receber tanta fúria deles. Eu paguei pela mata, entreguei o vinho, as duas galinhas, a farinha e eles (os espiritos) delagaram, antes de eu lá chegar, ao régulo a comer em nome deles. Se eu cumpri todo ritual, porquê é que não me deixam trabalhar? Porquê é que não soltam a chuva? Me querem ver a comer a cacana do WC da dona Mimi?

3 comentários:

Unknown disse...

Hehehehehehehehehe!... Saiete wena pa... não queira começar a discutir a justeza das medidas espirituais (ou divinas).

"Ku Katekile lava va kholwaka vanga swi wonanga" (bendinto sejam os que acreditam sem ver)

Nessas coisas (divinas ou espirituais) é assim como as coisas funcionam!...

um meu primo era um grande crente da IPM (missão suíça), tirava todas as contribuições e com a idade decide casar-se uma crente também por sinal abastada o suficiente para honrar com as contribuições, o meu espanto o marido morre num acidente de viação uma semana depois do casamento!

Sabes o que nos disseram? é que, o todo poderoso sabe o que está a fazer, não deve constituir desagrado para ningém

Creia no Régulo que os espíritos falam por ele...

aquele abraço

Jorge Saiete disse...

O todo Poderoso sabe o que está a fazer sim, mas em algum momento tinha que se colocar no nosso lugar de modo a saber como é que as suas decisoes e acções nos tramam.
Se os espititos falam com o regulo ele deve dizer, berm claro a eles, que eu não devo nada e que devem deixar a chuva cair, pelo menos na minha machamba. abraço masno

Anónimo disse...

Um bocadinho de oportunismo ou de ignorancia nesta história do régulo - minha opinião pessoal.
Maria Helena